Enfim, são várias possibilidades de abordagem e material abundante que permitiria mil e um estudos, ensaios, pesquisas. Como o gás em final de semestre é pouco vou contentar-me agora com essa pequena incursão, motivada pela postagem do Francisco de Paula, garimpeiro da hora e membro da página do Blog do Clube da Esquina. Ele postou por lá essa versão do conjunto vocal novaiorquino Manhattan Transfer para Viola violar (Milton Nascimento/Márcio Borges), que eu não conhecia ou ao menos não me recordava de ter ouvido. Gravada no disco Brasil (1987), e com a participação do próprio Bituca, ela aparece transmutada numa ode de teor ecológico bizarramente intitulada The jungle pioneer (O pioneiro da selva). Na música não traz grandes inovações, a não ser pela parte central em que a ponte instrumental recebeu letra e que apresenta uns tamborins na percussão, fincados ali como uma espécie de bandeira do Brasil timbrística. A versão da letra (Brock Walsh), além de não traduzir minimamente o conceito expresso na original, é de lavra ruim mesmo, com pérolas do tipo... [quem quiser ler a letra completa, original aqui versão aqui]
"Here where we stand there used to be a forest eu estou bem seguro nesta casa
A timber rising endlessly before us minha viola é o resto de uma feira
We cleared away that Godforsaken jungle a minha fome morde o seu retrato
And in return the Indians adore us brindando a morte em tom de brincadeira
A timber rising endlessly before us minha viola é o resto de uma feira
We cleared away that Godforsaken jungle a minha fome morde o seu retrato
And in return the Indians adore us brindando a morte em tom de brincadeira
What was mud now is a highway e amanhã mais vinte anos
Reaching wide into a prairie desfilados na avenida
Horses run, cattle are grazing arranha-céu, ave noturna
You would swear, it's Oklahoma (...) no circuito dessa ferida (...)
Reaching wide into a prairie desfilados na avenida
Horses run, cattle are grazing arranha-céu, ave noturna
You would swear, it's Oklahoma (...) no circuito dessa ferida (...)
See in the field my little son and daughter eu estou bem seguro nesta casa
Not long ago that ground was under water" comendo restos nesta quarta-feira
Claro que há grandes letristas norte-americanos. Acontece que quando se trata de versar grandes pérolas do cancioneiro brasileiro, via de regra as gravadoras de lá incumbem autores medianos que não conseguem traduzir ou muitas vezes nem tentam, fazem outra coisa, limitada e provavelmente mais palatável ao que imaginam ser o provável ouvinte de lá. Obviamente as versões são importantes veículos dos fluxos transculturais e certamente alguns ouvintes poderão, mesmo a partir de trabalhos fracos, desenvolver maior interesse e procurar as gravações dos compositores, tomando contato com outras músicas populares. Porém são também expressão da assimetria com que se movem esses fluxos e mostram bem como as versões podem ser veículo de estereótipos culturais. Como bônus, deixo as versões da mesma canção gravadas por Quarteto em Cy e Alaíde Costa.
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