Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

9 de janeiro de 2012

Alquimistas do som

 Um documentário sobre o experimentalismo na música popular brasileira, co-produção da TV Cultura e da TVPUC-SP, com direção de Renato Levi, roteiro de Fernando Salém e consultoria de Fernando Faro. Entremeando depoimentos atuais e imagens de arquivo, traz a palavra de músicos como Tom Zé, Egberto Gismonti, Arrigo Barnabé, Júlio Medaglia, Arnaldo Antunes e Lenine, comentando opções estéticas, obras, referências artísticas, contextos históricos e percepções sobre o tema. Além de seus méritos como material de consulta, especialmente pelas imagens históricas e depoimentos consistentes que agrega, destaco as reações dos músicos ao material de vídeo que iam assistindo à medida em que eram entrevistados. Lembra um pouco o formato do "Ensaio" (daí a mão do F. Faro), que é bem interessante. Agora, faço eco a alguns dos comentários que estão no YouTube, criticando seu caráter "paulistocêntrico/baianocêntrico" e algumas negligências (como ao Clube da Esquina) que para mim decorrem da reprodução do já desgastado discurso laudatório da bossa e do tropicalismo promovidos dentro da famigerada ideia de "linha evolutiva" da MPB. Mesmo com essa objeção, recomendo assitir:

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