Cerejas

Silêncio

A Câmara Municipal está tratando de abolir os barulhos harmoniosos da cidade: os auto-falantes e as vitrolas. [...]
Gosto daqueles móveis melódicos e daquelas cornetas altíssonas. Fazem bem aos nervos. A gente anda, pelo centro, com os ouvidos cheios de algarismos, de cotações da bolsa de café, de câmbio, de duplicatas, de concordatas, de "cantatas", de negociatas e outras cousas chatas. De repente, passa pela porta aberta de uma dessas lojas sonoras e recebe em cheio, em plena trompa de Eustáquio, uma lufada sinfônica, repousante de sonho [...] E a gente pára um pouco nesse halo de encantado devaneio, nesse nimbo embalador de música, até que a altíssima farda azul marinho venha grasnar aquele horroroso "Faz favorrr, senhorrr!", que vem fazer a gente circular, que vem repor a gente na odiosa, geométrica, invariável realidade do Triângulo - isto é, da vida."
Urbano (Guilherme de Almeida), 1927.

8 de janeiro de 2012

Quando a MPB ocupava o horário nobre

Em outros tempos, a MPB ocupava o horário nobre da TV brasileira. Pode-se até dizer, sem medo de errar, que a MPB tornou-se o que é entre outras coisas por sua grande articulação com a televisão brasileira, da explosão dos festivais às trilhas de novelas, da presença constante de seus grandes nomes em programas musicais, infantis, especiais, de entrevistas, e por aí vai. Para mim parece claro que o afastamento entre MPB e TV, da década de 1980 em diante, tem consequências evidentes na mudança de seu patamar de mercado e do perfil de seu público, distanciando-a do caráter massivo que assumira em meados da década de 1970.
Como documento significativo daquele momento posto trecho do show que Gilberto Gil e Caetano Veloso fizeram em março de 1972 no Teatro Municipal do Rio, ao retornarem do seu exílio londrino. A apresentação foi gravada e exibida pela TV Globo dentro da faixa "Sexta Nobre". Gil mostra ao público uma canção então inédita, Expresso 2222, que daria nome ao seu próximo disco.

Nenhum comentário:

Postar um comentário