Minha patente preferência pela canção, que justifico em parte pelo imenso peso histórico e cultural dessa forma em terras brasileiras, em parte pela questão de ofício mesmo, faz uma pausa para divulgar essas pérolas que encontrei nas errâncias pelo mar digital, a partir de um link postado num grupo de facebook dedicado ao Clube da Esquina pelo Matheus José Mineiro (agradecimento!). Trata-se dos discos de Nivaldo Ornellas e Robertinho Silva para a série M.B.P.C.
"Entre 1978 e 1981, através da série M.P.B.C. - Música Popular Brasileira Contemporânea, a Phonogram-Polygram se propôs a mostrar a gama diversificada de tendências a época reveladas na música instrumental feita no Brasil, por profissionais instrumentistas, compositores e arranjadores, dispostos a encontrar o seu espaço dentro da música popular brasileira, ampliando o seu campo de ação e reconhecimento. O mais interessante dessa série foi mostrar a música instrumental brasileira como uma expressão artística disposta de contemporaneidade, uma forma de arte contribuinte para a contemporaneidade da época -- inclusive como uma arte gráfica muito bem elaborada por um artista da época chamado Aldo Luiz. Bico de Pena. O produtor Roberto Santana Aramis Millarch conta, em entrevista, como funcionou a empreitada. Apesar da subsidiária da Phillips ser uma empresa que visava o lucro, o lançamento da série acabou funcionando mais como forma de engajamento documental do que como forma de se obter lucros consideráveis, haja vista a música instrumental brasileira não ter um mínimo da competitividade comercial de um álbum de Roberto Carlos, por exemplo. Atualmente, os poucos exemplares que sobraram da tiragem limitada lançada pela Phonogram-Polygram são raríssimos ítens de colecionadores ou pepitas perdidas em sebos e casas de vinis usados. Ao todo, foram gravados 11 álbuns." da apresentação do Wozzeck Magazine, blog criado pelo músico e pesquisador musical Vagner Pitta. [completo, aqui]
Talvez "contemporâneo" seja um dos conceitos mais truncados e flexíveis que se aplica desde a modernidade. Na nossa forma particular de experimentar o tempo, ele se recobre com diferentes acepções. A princípio, nos lança a ideia de simultâneo, concomitante, daí pensarmos o contemporâneo associado ao presente de quem o identifica como tal. Entretanto, se o contemporâneo é tomado de um ponto de vista comparativo, no regime de historicidade tipicamente moderno que identifica no progresso o modo preferencial de perceber o tempo, é possível criar a sensação que ele remete à novidade, à emergência do amanhã dentro do hoje. O contemporâneo, na série em questão, remete a esse "ar de novidade", traduzido por exemplo na parte gráfica, nas letras com tipos "computadorizados" e desenhos remetendo a paisagens fantásticas. Assim, numa percepção fatiada e escalonada do tempo foi possível considerar o "contemporâneo" como sucessor do "moderno". Daí provavelmente se depreende essa leitura, quando se fala em arte, por exemplo, embora surge imediatamente a dificuldade a partir da vertiginosa transformação na experiência social que inclui o fenômeno da "compressão do espaço-tempo" que tornou problemática a concepção progressiva tipicamente moderna. Assim, curiosamente, sob esse ponto de vista podemos identificar um "contemporâneo" datado, que desde o nosso presente se localiza no passado. Contemporâneo torna-se um termo ambíguo, porém talvez esteja aí a qualidade que lhe permite continuar circulando pelas bocas e cabeças. Poderemos eventualmente considerar, desde as possibilidades de apropriação que detemos num dado momento, que essa música soa com "atualidade" para nossos ouvidos.
Ficha técnica:
NIVALDO ORNELAS - Série MPBC
1978 Phonogram (6349 375)
1 - As Minas de Morro Velho (Cid Ornelas - Nivaldo Ornelas)
2 - Portal dos anjos (Roberto Fabel - Nivaldo Ornelas)
3 - Arqueiro do rei (Nivaldo Ornelas)
4 - Ninfas (Nivaldo Ornelas)
5 - Querubins e Serafins (Nivaldo Ornelas)
6 - Sorrisos de uma criança (Nivaldo Ornelas)
7 - Cidadela (Jairo Lara - Nivaldo Ornelas)
8 - O que há de mais sagrado (Nivaldo Ornelas)
arranjos e regência - Nivaldo Ornelas
arranjo da faixa 4 - Wagenr Tiso
Nivaldo Ornelas - saxofone tenor e flautas
Mauro Senise - flautas
Raul Mascarenhas - flautas
Cacau - flautas
Zé Carlos - flautas
Ricardo Pontes - flautas
Jairo Lara - flautas, violão de aço
Aécio Flávio - flauta doce
Marcio Montarroyos - piano, flugel horn, mellowphone
Wagner Tiso - piano acústico e orgão na faixas 5 e 8
Helvius Vilela - piano acústico e orgãos
Toninho Horta - guitarra e violão
Jamil Joanes - baixo elétrico e violão de 12 cordas
Luis Alves - baixo acústico e percussão
Pascoal Meirelles - bateria e tímpanod
Chacal - percussão
Chico Batera - percussão
Robertinho Silva - percussão
Robertinho Silva - bateria nas faixas 7 e 8.
Paulinho Braga - percussão
Paulinho Braga - bateria (faixas 1 e 2)
Pascoal Ubiratan - percussão
cordas:(Quarteto da Guanabara)
José Alves e Aizik - violinos
Frederick - viola
Watson Cus - cello
coro infantil - Tata, Flavinho, Nana e Carla
coro masculino - Edson Bastos, Max e Waldir Jamil
coro feminino - Suxzana, Nilza, carla e Nana
participação especial - coral da Pro-Arte (regente - Jaques Morelembaum)
Ficha Técnica:
MÚSICA POPULAR CONTEMPORÂNEA (MPBC) - ROBERTINHO SILVA
1981 - LP 1981 Polygram (6328 229 - Série Azul) (azul*09-2003)
Lado A:
1 - A CHAMADA - [3.26] Milton Nascimento
2 - O VÉIO NO SOL -[4.58] Egberto Gismonti
3 - BALAFON - [3.34] Gilberto Gil
4 - SONATA DE BATERA - [6.47] Nivaldo Ornellas
Lado B:
1 - BIÔNICO – [5.24] Jota Moraes
2 - CORAÇÃO - [4.46] Wagner Tiso
3 - FALANGE DOS TAMBORES – [2.46] Robertinho Silva e Nelson Ângelo
4 - SÃO JOSÉ 887- [6.12] Robertinho Silva e Filó
Arranjos
WAGNER TISO - A1 / A3 / B2 / B4
EGBERTO GISMONTI - A2
JOTA MORAES - B1
ROBERTINHO SILVA - B3
Arranjo vocal
NELSON ANGELO - B3
Voz Solo
ALEUDA - A1 / B4
Vocais
DANILO CAYMMI
NELOSN ANGELO
NOVELLI
FERNANDO LEPORACE - B3
Baixo Acústico
LUIZ ALVES
Bateria
ROBERTINHO SILVA
Percussão
ROBERTINHO SILVA - A1 / A3 / B3 / B4
ALEUDA - B4
CIDINHO - A3 / B4 / B3
NANA VASCONCELOS - A4
LUIZ ALVES - B3 / B4
NOVELLI - B4
CHICO BATERA - B3
UBIRATAN A3 / B3
Violão
EGBERTO GISMONTI - A2
Piano Elétrico
ANDRE DEQUECH A4
WAGNER TISO - A1 / B2 / B4
MARCOS RESENDE - A3
Piano Acústico
EGBERTO GISMONTI - A2
JOTA MORAES - B1
WAGNER TISO B2 / B3
Sax Alto
MAURO SENISE - B1 / B2
OBERDAN - A2 / A3 / B4
Sax Tenor
RAUL MASCARENHAS - B2
ZÉ CARLOS - A2 / A3 / B4
Sax Barítono
LEO GANDELMAN - A2 / A3 / B4
Flautas
MAURO SENISE - A2 / A3
ZÉ CARLOS - A3 / B4
Sax Soprano
NIVALDO ORNELLAS - A4
RAUL MASCARENHAS - B2
Trompete
PAULINHO - A2 / A3 / B4
BIDINHO - A2 / A3 / B4
Trombone
SERGINHO - A2 / A3 / B4
RAUL DE SOUZA - B4
Cello
JAQUES MORELEMBAUM - A1
Marimba
JOTA MORAES - A3
Guitarra
RICARDO SILVEIRA - A3 / B1
HELIO DELMIRO - B2
Obs: A música "Falange dos Tambores" foi baseada em "Maria Três Filhos" música de Milton Nascimento e Fernando Brant. A música "São José 887" é dedicada a Moacir Santos
Agradecimentos Especiais a Wagner Tiso, Luis Alves, Paschoal Meireles, Chico Batera, Loca, Túlio Mourão, Aleuda e a todos os músicos que participaram deste LP.
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